segunda-feira, 27 de julho de 2009

Por que queremos nível superior?

A ascensão das carreiras de nível médio para nível superior dentro das polícias civil em nosso país já é uma luta antiga e que a cada dia vem ganhando mais e mais força ao perceber que trata-se não só de uma simples valorização do profissional, mas de uma verdadeira valorização da instituição como um todo e visa uma maior efetividade das ações de polícia judiciária e também melhor atender as necessidades da população frente a grande problemática que hoje vivemos ao tratarmos de segurança pública.

Ao tratar deste assunto o Sr. Juvencino Guerra Filho - Presidente do Sindicato dos Policiais Federais, ao reportar-se ao que ocorreu a anos dentro da Polícia Federal, qualificou a exigência do nível superior nessa instituição como um “divisor de águas”. Segundo ele, com a melhoria da qualificação do quadro de seus policiais, aumentou a produtividade e a eficiência da instituição no combate à criminalidade. Diante disto, questionamos e também queremos unir-nos a sociedade civil neste questionamento: Porque seria diferente com a Polícia Civil do Estado do Acre?

Hoje é notória a necessidade de policiais capacitados para assumir as carreiras que dentro da polícia civil exige desde um atendimento de qualidade às necessidades do cidadão ao uso de tecnologias e conhecimento técnico – científicos e jurídicos que corroborem as atividades especificas da polícia civil na elucidação de crimes e no enfrentamento à criminalidade.

Não são muito divulgados os índices, que frente à ação criminosa, ofuscam nossa ação policial, mas no Estado do Acre, graças a ação de nossos valorosos policiais civis, temos um excelente índice de elucidação de crimes de homicídio, o que com alegria e orgulho ostenta nosso secretário. Recentemente a Organização das Nações Unidas - ONU também reconheceu que a polícia civil brasileira ocupa o segundo lugar entre as polícias do mundo na elucidação de crimes violentos.

Por outro lado, vemos como uma constante a saída de policiais da instituição. Por não se verem valorizados profissionalmente, e mesmo amando a carreira que escolheram, sentem-se desvalorizados frente ao que constantemente têm que enfrentar no seu dia-a-dia funcional. Vê-se hoje, uma frenética busca dos atuais policiais por concursos para carreiras que hoje os valorize mais. Em menos de um ano após a contratação de novos agentes e escrivães, já se percebe uma grande evasão destes dos quadros da polícia civil. Muitos recém concursados usam da polícia apenas como trampolim para outras carreiras jurídicas simplesmente porque a polícia civil do Estado do Acre não oferece adequadas condições de trabalho e melhores salários.

Vemos como muito preocupante, os elevados gastos do Estado com concursos públicos para a polícia civil e com cursos de formação de policiais, para em menos de um ano já percebermos a necessidade de novos concursos e novas contratações.

Estes e tantos outros são os argumentos que expomos para questionar: Por que não fazer a ascensão dos agentes e escrivães para nível superior se isso só engrandecerá a Polícia Civil e trará melhores resultados a atividade policial?

NÍVEL SUPERIOR – VISÃO DE UMA POLÍCIA CIVIL DE VANGUARDA

O Brasil vive nos dias atuais intensos problemas de Gestão dentro da área de segurança pública. Em virtude da complexidade e da amplitude das atividades criminosas em âmbito interno e também transnacional, cada vez mais se percebe a necessidade de uma polícia mais capacitada e pronta a atender as emergentes necessidades da população que a cada dia se vê mais e mais refém da criminalidade crescente.

Diante deste quadro, grandes transformações têm ocorrido nas polícias brasileiras. Os governos nacional e estaduais junto as nossas forças policiais têm buscado a qualificação, capacitação e valorização de seus servidores de forma a ser capaz de atender com qualidade, eficiência, eficácia e probidade as necessidades de nosso público-alvo: a população.

Nosso Estado não tem ficado para traz nesta transformação e reportando-se a ocorrida na Polícia Civil, e vislumbrando as que ainda poderão ocorrer: “... permitirá que a Polícia Civil possa realizar um planejamento mais eficiente de suas operações e lhe permitirá a realização de uma grande reestruturação tanto administrativa quanto física. O Acre é o primeiro Estado a ter uma Polícia Civil autônoma, com status de secretaria. Esse fato deixa claro o compromisso e o respeito do governo do estado para com o cidadão acriano. A autonomia desta importante instituição representa o primeiro passo em direção a melhoria no atendimento ao cidadão e na resolução dos crimes”.[1] É bem verdade que estamos à frente dos demais estados da Federação, com uma polícia civil autônoma e que tem poder de ordenar suas próprias despesas e efetuar um planejamento mais adequado a suas ações de polícia judiciárias. Mas, também é verdade e aqui queremos ratificar, que este é tão somente o “primeiro passo” dos muitos que devemos dar para alcançar o nível das polícias civis de outros estados que hoje avançam a passos largos com o apoio e assentimento do Governo Federal que muito tem incentivado e espera um maior empenho dos gestores estatais, quando o assunto é dar ao povo uma polícia judiciária mais qualificada, capacitada e valorizada frente às imponentes mudanças sociais e da atuação criminal.

Hoje são muitos os obstáculos que devem ser vencidos para que tenhamos uma polícia valorizada e policiais cada vez mais motivados em nosso estado.

Indiscutivelmente, a falta de reconhecimento ou o fechar dos olhos para tantos problemas como: a remuneração defasada e incompatível com o perigo da atividade; carga de trabalho superior ao que estabelecido em lei; extirpação de direitos hoje assegurados em legislação(...) têm junto a falta de valorização prejudicado a auto-estima do policial civil.

Visando minimizar tal problema, muitos estados brasileiros, dentre estes: São Paulo, Rio Grande do Norte, Alagoas, Pará, Amazonas... perceberam a necessidade de possuir nas funções de Agentes de Polícia e Escrivães, policiais de nível superior com conhecimentos técnicos, legais e também jurídicos. Tais estados já deram este grande passo e hoje possuem em seus quadros: pedagogos, administradores, contadores, economistas, biólogos, bacharéis em direito, cientistas e tecnólogos da informação, dentre outros trabalhando e usando de seus conhecimentos nas mais diversas investigações e práticas cartorárias; em nada diminuindo o grande valor dos que hoje mesmo possuindo o nível médio, deram e ainda podem dar grande contribuição à polícia civil, a exemplo do que ocorreu nesses estados.

Muito bem observou nosso Delegado Geral Emylson Farias da Silva, ao ver insculpido na Matriz do Curso de Formação dos nossos policiais os princípios e diretrizes presentes no Sistema Único de Segurança Pública do Governo Federal: “Diretrizes: o atendimento imediato ao cidadão, o planejamento estratégico e sistêmico, integração dos órgãos e instituições da segurança pública, utilização de métodos e processos científicos, uso de sistema integrado de informações e dados eletrônicos, qualificação para gestão e administração de conflitos, dentre outros. É portanto, nesses princípios e diretrizes que deverão se pautar os novos profissionais da segurança pública, pois somente assim poder-se-á proporcionar a população acriana um atendimento de qualidade, mediante uma investigação mais célere, eficiente e eficaz, menos empírica e mais científica.” [2]

Esta é a cara da polícia civil que o governo federal espera ver, que boa parcela dos estados já tem e que o Acre não pode deixar de ter para possuir uma POLICIA CIVIL DE VANGUARDA. Este é também o entendimento que o Conselho Nacional de Justiça – CNJ tem, ao reconhecer sem dúvidas que as funções de Agente de Polícia e Escrivães na polícia civil exigem CONHECIMENTO TÉCNICO JURÍDICO.

“Não parece haver dúvida, pelo que se considera, de que a atuação do escrivão da polícia, quer federal, quer mesmo estadual, esteja a pressupor preparo jurídico, esteja a exigir, marcadamente, a utilização desses conhecimentos técnicos. E isto mesmo que, como em caso, para o respectivo concurso não se reclame, propriamente, curso de direito completo, mas sim qualquer curso superior.

Situação talvez menos clara seja a do agente, tal como o é, no âmbito das polícias civis estaduais, a do investigador. Veja-se que, como está na mesma portaria citada, a função essencial do agente é de investigação e de realização, nessa senda, de operações e coleta de informações. Tudo isso, porém, voltado a um fim, que é o de esclarecimento de delitos.

Ora, se assim é, igualmente se reputa preponderante uso de conhecimentos técnicos. Por um lado, investigativa está a pressupor conhecimento das normas próprias que regem a coleta de provas ou a efetivação de diligências como a de prisão, apreensão, e outras do gênero. De outra parte, se toda a gama dessas atividades se destina a apurar a prática de um delito e sua autoria, decerto que ainda aqui a utilização de conhecimento técnicos, legais, jurídicos, é uma constante.”[3]

Diante desta breve explanação, a reivindicação de NIVEL SUPERIOR para as funções de Agentes de Polícia e Escrivães é o mínimo que nossa corporação pode exigir e nossos gestores e legisladores podem acatar para fazer frente ao crime, que a cada dia se torna mais sofisticado em nosso estado. Com estes primeiros passos, quem sabe possamos dar a nossa população a esperança de dias mais seguros, e ter em cada um de nossos pares a certeza que serviremos a uma polícia civil que sabe quem é, sabe o que quer e onde quer chegar.



[1] Emylson Farias da Silva – Delegado Geral de Polícia Civil – Discurso de abertura do curso de Formação de Delegados e Escrivães - Artigos e Notícias da Polícia Civil – www.ac.gov.br/policiacivil

[2] Idem

[3] Pedido de Providências nº 1238 - CNJ